quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

mas...que porra... foi isso?

Então, quando o Sol ainda - e infelizmente - estava a pino, eu olhava pra ele. Apenas com o pensamento vagando, entende? Como se eu estivesse solta sem gravidade. Não que eu não tivesse nada pra fazer. Eu tinha muita coisa pra fazer. Uma lista de coisas pra fazer. Mas eu queria mesmo era observar o Sol. Pensar nas criancinhas, nos filmes, nas mulheres. Na bondade, no budismo. Nas palavras e pernas cruzadas. Em beijo e abraço. Essas coisas que a gente pensa quando tá carente ou simplesmente melancólico. Que nenhuma outra palavra descreve melancolia melhor como "simples". Melancolia parece arroz sem sal, ração humana, leite puro. Até esperma tem gosto melhor que melancolia. Mas as criancinhas morrem, os filmes acabam e as mulheres tem que lutar. O budismo tá longe e a bondade também. As pernas se abrem pra levantar e sair do trem. Até as palavras cruzadas perdem o encanto. O Sol continua lá. Brilhante, quente, grande. Mas a gente só murcha e murcha. Inclusive literalmente. E se você não murcha, eles dão um jeito disso acontecer. No outro lado da Terra Média, sabe? Atrás da Matrix. Música e escritas como se fossem a salvação. Esse negócio de futuro e gente nascendo. Parece aquele macarrão estranho que eu nunca comi que já vem embolado. Parece os blogs que a gente cria escondido de todo mundo pra falar um monte de merda. Parece aquela senha no celular que só tá lá porque tiramos auto-retratos quando estamos nus e todo mundo pensa que é por causa das mensagens. Parece aquelas coisas que a gente conta achando que a pessoa não vai contar pra ninguém mas no final todo mundo sabe só ninguém comenta. Parece quando a gente descobre que prazer existe e fica com um tipo de medo super estranho. Parece quando a gente se toca que ver Laranja Mecânica não dá mais nervoso (e lembra da primeira vez que viu). Só não parece uma mulher grávida nem parece beijo na testa. Não parece quando a gente tá deitado depois do sexo e começa a conversar algo aleatório. Não parece pão com manteiga em dia frio. Não parece um montão de amigos rindo. Parece maisena cozida com água. E o Sol continua lá. Todo fodão. Rei. Todo sútil. E eu dali, vendo as casinhas só no tijolo. Os ar-condicionados. As pessoas andando de bicicleta. Aí alguém me cutuca e diz "entendeu?". Mas não entendi porra nenhuma. Parece filme, né? É que a arte imita a vida. Que é nosso bem mais precioso. Aí eu também não quero entender. Olho naqueles olhos de quem não sabe de nada das coisas boas desse mundo, sinto compaixão, e balanço a cabeça que sim. Sabe, aqueles olhinhos de recém-nascido? Num sabe nem o que tá acontecendo. Queria estar balançando a cabeça ouvindo Smiths, e todas as músicas que nos fazem balançar a cabeça - que são as melhores das melhores das melhores. Mas estou balançando a cabeça mentindo. Tudo bem. Ninguém nota a fumaça dos carros. As mortes do tráfico. A polícia inimiga. As pessoas inimigas. Só eu e o Sol. Que é bem melhor conversar com ele do que com gente que não sabe que amar sem ser amado ainda é melhor que não amar. E amar sendo amado ainda é melhor que música que faz balançar a cabeça.

Nenhum comentário:

Postar um comentário