segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

Meu - pior do que o do Jack Kerouac - diário de sonhos. part I

Eu tinha ido de buscar no trabalho e ele não era onde você trabalha agora. Você era recepcionista de uma pousadinha aconchegante e amarela. Daquelas perfeitas para famílias que querem conforto sem gastar muito. Acho que por esses aspectos eu fui tão bem vinda lá e fiquei na recepção esperando você sair. Não impaciente ou irritada porque tinha que ficar ali te esperando, mas eu estava feliz. Como eu sempre estou quando tô perto de você.
Saimos de lá comigo insistindo para irmos a praia. Dizendo que estávamos tão perto e seria legal. Você concordou. Nessa hora o meu sub inconsciente fez umas escolhas extremamente aleatórias e eu chamei umas amigas que há muito não tenho contato. Elas aceitaram, o que é ainda mais estranho. E nós fomos. Quando eu e você chegamos, a praia não era mais a praia bonita e natural que sempre íamos. Era artificial. Era mesmo artificial. Era uma bacia azul com "aberturas" no fundo, de onde vinha a água e as ondas. Mas continuamos lá. Ainda tinha pedras e um Sol de verdade.
As minhas amigas chegaram. Só duas delas. A única que eu realmente poderia querer a presença, não chegou. Então eu e as meninas ficamos tentando achá-la, porque ela é tão baixa que podia já ter chegado sem a gente perceber ou ela não perceber a gente. Foi quando uma das meninas olhou e perguntou se lá não seria ela, a baixinha que estávamos procurando? E o que era aquilo no rosto dela? Uma pausa se fez sem que eu conseguisse enxergar o que havia de errado no rosto dela. Cambaleante, ela conseguiu nos achar e sentar do nosso lado, nas pedras. O olho dela estava machucado, vermelho, roxo e inchado. Isso também pegava um pouco do canto da boca. Agora, escrevendo, não parece tão assustador mas aquilo era pertubardor. Era horrível e eu tive tanta pena dela. Fiquei agachada perguntando coisas e passando água na ferida como se aquilo fosse fazer alguma diferença. Mas eu só não queria ficar parada olhando aquilo e querendo chorar.
Cadê você, nessa hora? Olhei em volta e te achei conversando com uma menina. Ela era branca, com cabelos negros, e um biquíni vermelho que só ressaltava o seu corpo claro. Ela era... parecida comigo. Com excessão dos cabelos que eram maiores e mais negros. Eu fiquei olhando e olhando. E esqueci o machucado no rosto da Ana Paula, e esqueci as duas meninas que estavam com a gente, esqueci a praia artificial, e esqueci até mesmo da pousadinha amarela que você trabalhava. Eu tive a leve sensação de estar te perdendo. Sem conseguir parar de olhar aquela cena, a sensação só aumenta. E aí o meu cérebro processou todas as vezes que:
você disse que nunca iria embora
você disse que me amava (e pra sempre iria amar)
você disse que jamais me trocaria porque eu era única e especial
e você dise tantas outras coisas bonitas.
você disse que ia casar comigo
viajar comigo
e trepar comigo pra sempre.
Mas você estava lá com a moça bonita que eu nem sabia quem era.
Eu senti meu corpo perdendo peso, não como se eu estivesse levitando, e sim como se eu tivesse perdendo grandes partes de mim. E eu não aguentava aquilo. Eu fui me aproximando de vocês e você se quer notava. É como se você tivesse hipnotizado e a minha presença ali não interferisse nisso. Lembranças da minha presença te afetando se passaram pela minha mente.
você segurando minhas pernas e pedindo pra eu almoçar com você, como se a sua vida dependesse disso, na frente de todo mundo, enquanto eu ria, sem graça
você abrindo um sorriso gigante me vendo sentada na entrada do shopping, te esperando - como se aquela fosse a cena que você quisesse ver pra sempre, eu te esperando
e você fez tantas outras coisas bonitas.
você me levava pros lugares
você me dava conselhos felizes porque amava me ver feliz
e você beijava o meu corpo todo.
Mas nada disso era importante no momento. Essas coisas estavam se desvanecendo. Você estava abrindo mão dessas coisas como já abriu mão de tantas coisas por minha causa.
E eu estava pegando seda  e embrulhando essas lembranças, delicadamente.
Estavam sendo jogadas fora.
Sumindo.
Como o vento.
E eu estava sentindo TANTA saudade. E isso aumentava toda vez que eu via o seu olhar pra moça tão branquela quanto eu.
Eu sentia saudade de você e inveja dela.

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