terça-feira, 16 de setembro de 2014

As coisas pareciam uma completa sinestesia naqueles dias. Mesmo os raios fortes de Sol, que nos faziam levantar as 8h da manhã correndo pra ir a praia, tinham um cheiro. Nessa hora, quando acordávamos, virávamos um para outro para conversar - geralmente eu com a cabeça no seu peito e a perna em cima da sua, bem clichê - e era como se só estivéssemos dormindo por obrigação, e ficássemos a noite toda na espera de acordar e ouvir a voz um do outro. Quando um abria o olho, o outro já tinha aquele "ufa!", e começava a falar e acariciar. Assim, até alguém comentar rindo da gente, eu nunca tinha percebido que tínhamos um momento tão bonito antes de escovar os dentes. Quer saber? Eu não sentia cheiro nenhum, eu só sentia o meu coração feliz. Então os poucos minutos entre você colocar as cadeiras de praia pra fora e eu ir tomando banho pareciam uma eternidade. Compensada pelo pão com alguma coisa que você fazia pra mim que eu nunca encontrei igual, nenhum pão com gosto parecido, nenhum tão bom. Andávamos um bocado antes de chegar na praia, as vezes por necessidade, e as vezes prazer. O vento que batia era tão cheiroso que mal me lembro sem que me dê vontade de chorar de saudade daqueles dias, e ele parecia passar pelo nosso corpo como se fizesse parte da gente, tão refrescante e delicado que eu nunca queria voltar pra casa, só queria estar ali. A noite, chovia e a gente ficava dentro de casa rindo ou chorando de alguma coisa simples e bonita ao mesmo tempo, rindo de um telefonema por engano ou chorando do último capítulo da novela das 9h (e você realmente chorou! Acho que nunca me esquecerei disso). Comendo amendoim e elogiando um ao outro com coisas do tipo, "como a sua pele é macia", "como você é engraçado", de um jeito tão informal que era totalmente nosso. E teve aquele dia em que saímos e choveu, e pegamos chuva, e eu invejei cada gotinha que te molhava.
Quando eu era menor, vira e mexe ia com meus pais pra esse tal local de praia com nome indígena. E o nome nunca me soou tão musical quanto soa agora.
Agora, quando ouço uma música boa ou vejo um céu tão azul que dá vontade de voar, digo pra quem tiver perto "isso tem cheiro de Itacuruçá", e ninguém entende nada, mas não importa, porque o cheiro é bom demais, e eu me ponho a cantarolar, lembrando daqueles dias bonitos, de chuva ou Sol, do calor, do frescor, de você.

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